domingo, 24 de junho de 2012
Reconhecer-se
Escrevia sobre deuses, homens
o nada, o vazio
meu corpo
e poesia.
De fato, fingia
meu corpo
o nada, esse vazio
deuses e homens.
Por certo, até por vezes, eu era o deus.
À minha imagem e própria semelhança,
Nomeava coisas, dava formas.
Caçava em ritmos e sons de minha onipresença,
o adágio que compunha as rimas.
Meus versos não eram meus,
mas delírios traçados
que mapeavam minhas sinapses
pelas mãos criadoras, possuidoras da pena,
manuseando-a qual chicote amansando fera.
Escrevo para mais um pouco.
Sobrevida do eu.
Nessa experiência, traduzo-me a mim
em letras mal desenhadas
E por (e em) este transe que me encontro
Finjo sentir, o que deveras sinto.
terça-feira, 19 de junho de 2012
Pecado
A desmetáfora do cotidiano
aleija
tanto membros,
quanto a percepção.
Ali a pedra. Mera pedra.
Imutável.
Estática.
Suja.
Que perdoe, Drummond, esse pecado.
Neruda também, por sua cebola.
Os olhos não se acostumaram com tanta luz.
aleija
tanto membros,
quanto a percepção.
Ali a pedra. Mera pedra.
Imutável.
Estática.
Suja.
Que perdoe, Drummond, esse pecado.
Neruda também, por sua cebola.
Os olhos não se acostumaram com tanta luz.