sexta-feira, 30 de abril de 2010

Impudicos

Na sua forma cilíndrica, me chamou a atenção por seu aspecto negro. Por sua vez, a outra, em sua brancura virginal me atiçava o raciocínio. Eu, por observá-los, divagava os mais impuros pensamentos interraciais, desejando que, entre os dois, o forte desejo que os atraía fosse tão logo consumido. Em minhas mãos, hoje, o lápis e a folha de papel copulam. Nascerá uma poesia.

sábado, 24 de abril de 2010

O si e o outro

      De alguma forma você está, hoje, em minha casa. Uma surpresa agradável, ainda que não tenha batido à porta ou pedido licença para entrar. Simplesmente estancou diante de mim e me fitou a analisar todos os centímetros que me compõem. Estava sujo, cabelo desarrumado, os olhos doentes, o que, mais triste, me chamou bastante a atenção, uma vez que não havia neles o brilho do qual me acostumara. O que te acontece, Jaílson? Seus olhos supurados, profundamente vermelhos, irradiavam um anseio em tornar voz aquilo que guardava dentro de si desde que nos conhecemos. Quer me dizer algo? Balbucios infantis saltam de sua boca e como gritos de uma alma oca chegam aos meus ouvidos - pertencentes a um corpo que se encontra no mesmo estado almático - sem, entretanto carregar em si qualquer sentido.
      Cale-se, meu caro e arranque logo esses olhos. Eles de alguma forma sempre me viciaram e vê-los assim, poluídos de mundo, me faz perceber a minha própria fraqueza e, até mesmo, enxergar a minha própria poluição. Que tipo de grito posso ouvir em sua voz? Um clamor, novamente, à Luzia em favor do desejo de que pare a secreção de mundo que escorre de seus olhos. São, de fato, gritos que ouço? Dói em mim a visão distorcida, a doença daquilo que me trazia relativa paz, pois neles podia - porque não dizer que ainda posso? - ver o reflexo de mim mesmo. Um esboço de sorriso se desenha em seu rosto, Jaílson. A que ponto se espelha em você esse eu mesmo?
      E já que você encontra-se em tal calamidade, neste momento você espelha qualquer loucura que habita em mim?

sábado, 10 de abril de 2010

Cegueira

De um canto os olhos espreitam
Vagueiam buscam não encontram,
Nesse silêncio de almas,
Uma.

Não acostumados com a escuridão
Perdem-se
Caminhos desalinhados
Que rumam ao infinito
De viagens já trilhadas por poetas.

Daqui miram o sol
Tal qual de Ícaro as asasDerretem-se as retinas
De forma gelatinosa

E que nas mãos de Luzia se curem
E ainda que fatigados enxerguem.