terça-feira, 6 de março de 2012

Nenhum ou cem mil

            Há sob minha pele tantas outras, caro amigo. Levemente dói quando resolvem descamar, dando-me um tom avermelhado, depois levemente claro, deixando-me, por fim, plenamente pálido. Tantos rostos sobrepostos pelo meu que agora já desconheço o primeiro. Torno-me os demais. Não por gosto próprio, devo dizer, mas reflexo de quem olha ao espelho, absorvendo - e olhando - não a imagem de si, mas daquele que vê e dos transeuntes ora refletidos.
          Unifico-me em vários, desdobro-me em um. Uno. Trino. Um deus entre mortais que, por sua condição divina, vagueia silenciosamente sem reconhecimento, seja pelo olhar alheio ou pelo desapego de si.
          E esta face agora a desconfigurar-se. Este rosto que se perde traçando linhas, mapeamentos, fronteiras.
       Um pedaço cai-me sobre as mãos e vejo-me, novamente, transmutado. Já não mais o que iniciou a conversa. Tampouco posso te ver da mesma forma. Não mais eu e tu. Ou o ou eu que falava de ti. Nós! Tu em mim. Eu em ti.
          Há tempos que não nos víamos. Outro pedaço de face. Pálido. Perco-me.

2 comentários:

Priscilla disse...

AMEI ESTE!

Antieli disse...

Obrigado, Pri! :)