segunda-feira, 29 de março de 2010

Ausência

       Já faz algum tempo que deu as costas e caminhou após desejar apenas boa noite. O cheiro e o calor do corpo se dissiparam e, desde então, imperou apenas um silêncio retumbante dentro destas paredes. Os olhos já não se encontraram mais e as palavras, que compunham a poética de uma conversa vazia, se isolaram em memórias. Instaura-se, agora, o jogo da presença/ausência tão percebido por uns pelo seu tom pastel, porém posto de lado por outros, que o ignoram por sua aparente palidez. Entretanto, nesse caso específico, o jogo pinta-se com riscas claras, próximas a um cinza, que se misturam a um fundo cor de vinho, permitindo uma baça embriaguez visual, reflexo, talvez, de um estado de espírito.
      Mas de qualquer forma, já faz algum tempo que deu as costas e caminhou após desejar apenas boa noite. Permaneço estático como aguardando a sua volta, ou quem sabe um ímpeto que propicie a minha ida. Para onde pouco é necessário saber, muito menos faria diferença. Mas o que importa, nesse momento, é o que se criou com essa ausência que agora se personifica em meu corpo: a solidão que se faz presente e que conforta exatamente pelo seu vazio. Soa contraditório, mas é real. O que ausencia, provoca, ao mesmo tempo, uma presença. Um desejo de boa noite, o cheiro, o calor do corpo. O silêncio, a solidão. Os primeiros se foram, os segundos chegaram.
     Já faz algum tempo que deu as costas e caminhou após desejar apenas boa noite. Terminarei  apenas de pintar esse quadro de riscas quase cinzas pintadas em um fundo vinho e que me deixam com essa esfumaçada embriaguez visual. Feito isso, finalmente terei a boa noite que me foi desejada.

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